SELFIE
Como é solitário, no topo! …
Bem lá em cima,
na câmara de ecos
da nossa voz muda e secreta,
que nunca se encarnou em palavras
para revelar aos outros
os itinerários da alma
que só a nós mesmos
confessamos.
Como é assustador
ter que virar a chave
na sétima porta
da nossa arca-fortaleza,
mesmo que seja
para um olhar furtivo
à mobília empoeirada
que aprendemos a conhecer
de cor e salteado,
mas de cuja existência
ninguém suspeita.
Com que medo
reconhecemos essa nossa voz!
A voz que bem conhece
o coro de outras vozes
que ressoam lá fora,
sempre de passagem,
alheias ao silêncio que cresce
em nosso castelo interior.
A voz que também sabe
do murmúrio de outras almas,
de seres que nos oferecem
seus braços e seus afagos,
que nos banham em delicadezas,
que dormem confiantes ao nosso lado,
velando sua própria solidão
Igualmente íntima
Igualmete vulnerável
Igualmente inacessível