FOLÊGO FORTE

Outras esperanças ainda vivas

Campos floridos pelo arrozal

Banquetes estendidos às auroras

Em rosas os beijos ainda existem

Mas as beiras das angústias tristes

Os fazem permanecerem quase sozinhos

Aqueles esquecidos pela sociedade

Que vivem à beira do abismo

Nas ruas de grandes cidades violentas.

As cidades abrem seus braços

O sistema quase sempre diz não

As crianças estão famintas

Pedem esmolas, pedem pão!

E o assunto dos intelectuais vira de lado

Agora é o lado oposto da moeda

Agora é os sem-terra o tema evidente

Agosto é o mês como outro vai ter

A luta pela independência da mulher.

Rolam sete assuntos por segundos.

Dá-se a volta ao mundo.

Tudo quanta era prejuízo

Agora é quase tudo novo.

A novidade encobre a outra.

A moeda é meia falha.

A encruzilhada não está apenas na estrada,

Está em quase todos os lugares,

É uma soma de coisas vulgares

Sendo postas em outras esquinas.

Aquelas mais belas meninas

São frutos de outros amores loucos

Na loucura de fazer o que é bom

Na bondade arraigada no ser

Ser fiel no fel mar da vida

Esquecida na fresta da janela.

Embora o tempo possa apagar

A orgulhosa maneira de ser

Daquela cidade maravilhosa

Infestada de rosas bombásticas

De loucuras fantásticas

E quase um adeus à paz.

É um retrato revelado em preto a branco

Nada de cores na realidade

A natureza se pintou de cinzas

Foi-se embora a felicidade

A baía boia lixo com luxo

O luxo é o cartão postal.

Em Mato Grosso acaba-se o colosso

Do nosso maravilhoso Pantanal

Em nossa casa tudo é imundo

O mundo não é mais tão lindo

O brilho do seu olhar

Não dá mais para olhar

A escureza da vida posta em xeque.

As palavras vão construindo pequenas frases

As frases dizem de quase tudo alguma coisa

A casa do vizinho é um lar belo

Em nossa casa ocorre o inferno.

Do outro lado do muro

Quase tudo parece escuro

Não queremos enxergar nada

Apenas rabiscamos algumas palavras

Que vão ao encontro do nada ausente

Disfarçado de uma satisfação

Que permeia o nosso ego,

Mas na verdade somos cegos

Querendo ver o brilho da estrela.

É uma beleza posta à mesa

Uma verdade contra a mentira

Em mim existe outra maneira

De ver o nascer do sol mais uma vez,

Mas aqui agora como já disse antes

Quase tudo parece escuro

E o vento ainda não chegou

Sinto um calafrio em meu peito

E sem muito jeito alguém se mexe

Naquela outra dimensão

Outro plano é posto a mesa

E a beleza daquele olhar

Torna-se tristeza em alto mar.

Ainda há alternativas

Mas todas as expectativas

Então sendo mortas aos poucos

E poucos são os caminhos

Que restam neste fim de batalhas frustradas

Para o viver tranquilamente

Nessa redoma disfarçada da sociedade.

Se a beleza fosse metrificada

Se a métrica fosse beleza

Se existisse um anjo na estrada

E uma fartura sob a mesa

Mas nada disso existe

O que existe é apenas um sonho

Em um som meio esquisito

De folhas que caem quebrando o silêncio

Daquela noite incerta

E no viajar por aí sem se preocupar

Com a quebra do silêncio da madrugada.

Talvez sejamos sempre os mesmos imbecis

Talvez haja outro ângulo da vida solto no ar

Talvez não haja tanta necessidade

De se fazer o que é tão bom aqui agora

Talvez bata forte no peito

Um coração carregado de angústias

Talvez esse país tenha outra direção

Talvez nada disso possa acontecer

Talvez por outros motivos

Quase tudo pode perder a direção

Mas a força arraigada no interior

É inabalável e ainda cresce,

Ainda voa a procura de outros patamares.

Sou ainda um pouco de esperança no ar

Sou, quem sabe,

Outro sonho perdido,

Sou um sutil caminhar

Que se despede daqueles tempos queridos

Sou a réplica de seu olhar em tempos passantes

Sou a voz meio rouca na escuridão

Sou a ausência de quase tudo

Prostrado à beira da estrada

Mas sou um ponto de luz

Que veio para ficar

No meio da escuridão

Que nasceu para brilhar

Não sou o que gostaria de ser

Não nasci só para vencer

Não sou nem eu nem você

Sou tudo mais além de ser

Um simples poeta querendo ser

Famoso na aridez humana de ser

Agora que já rimei demais,

Volto para meu lugar a procura da paz

Embora eu não vá embora,

Aqui agora posso fazer outras brincadeiras

Que podem nos tocar a vida inteira

E deixarem marcas leves no tempo e no espaço

Espaço e tempo poderiam ter mais espaço

Em meus poemas.

A voz do vento

Poderia dar forma ao fonema,

Mas as angústias arraigadas no interior

De cada um de nós, fazem empobrecer o alvo

E nos calar a voz.

Mesmo que eu não vá embora,

Uma tristeza nasce no olhar de quem se despede

E a chance de eu retornar à sabedoria primorosa

É apenas uma questão de tempo...

Imprimir na estrada

As marcas firme/fortes de nossos passos

É uma obrigação por demais correta

Que exige certa coerência

De cada um de nós.

Aparece em cada esquina de rua

Outra maneira de ser

Mas estamos sempre perto de quase tudo

Quando tudo é menos igual

Que o nosso simples jeito de ser

Nas tempestades cotidianas.

Há tantos outros enganos

Que nem imaginamos suas sutilezas

Mas as belezas da multimídia

São tão comoventes

Que nos enganamos por completos

E esquecemo-nos da realidade nua e crua

Que é um barbarismo completo.

A aparência às vezes engana

Em nós, há muitos assuntos por semana

Mas as barbaridades que acontecem

A quase tudo estremece

Na fulgura que possibilita algo

Que nem sabemos ao certo

O que realmente queremos

Ou que desejamos que fosse.

Uma maior chance

Talvez revelasse outros tempos bons

Talvez nos mostrasse outros caminhos

Ou desenvolvesse outros dotes

Mas nada disso nos é dado.

Somos sempre soprados ao longe

Sempre seremos soprados ao longe

Mas longe da inquietude nossa

Seremos outros tantos por aí

A sentir saudades daqui.

A ignorância está a nossa volta

Ela está em todos nós

Ela está arraigada em nosso ego,

Essa verdade não nego,

Mas é muito difícil assumi-las.

Qual é a incidência do tempo

Perdido em nossa vida?

Qual seria a solução para tudo isso?

Quem sabe avaliar a sua ignorância?

Quem é capaz de ser humilde?

São perguntas que deveríamos fazer a nós mesmos,

Antes de apontarmos criticas a alguém diferente de nós.

Nossos pontos de vista

Podem ser vistos de outros ângulos

E assim sermos colocados à prova

De outros pontos de vista quaisquer

E assim “o tédio que chega a constituir nossos ossos

Encharcou-me o ser, e a memoria de qualquer coisa

De que não me lembro esfria-me a alma”.

O olhar de interesse dúbio

Nos faz imaginar outras coisas

Que não tem nada a ver com tudo isso aqui agora.

Qualquer outra coisa poderia ser um ponto em questão

Para traçarmos algumas diretrizes que pudessem

Fornecer-nos outro amparo capaz de incentivar

A criação de cem números de outras coisas,

Porém, estamos sempre em fúria no frio

Que cada um carrega em seu próprio corpo

Por onde passa.

Ah, pelo menos fosse uma coisa

Mais segura, mas a coisa que coisa a vida

É muito falha e na falta que falta o ser capaz de algo;

Alguém se esperneia buscando outra sombra

Para amarrar o seu cavalo

E descansar um pouco mais.

“Com o mistério das coisas por baixo das pedras

E dos seres, com a morte e pôr umidade nas paredes

E cabelos brancos nos homens, com o destino a conduzir

A carroça de tudo pela estrada de nada. ”

Assim carrego uma mensagem no peito

Que pode não parecer quase nada,

Mas é tudo que trago comigo neste meu caminhar lento

Rumo a escadaria que me conduz ao sucesso!

Em campos flores desabrocham como nunca

Em rios peixes nadam quase sem parar

Aqui agora posso estar sorrindo

Mas ali na frente a historia pode ser outra

E no vai e vem das marés

Posso ter meus sonhos jogados para o ar

E não mais saber se comportar direito

Dentro dos parâmetros impostos pela sociedade.

É muito difícil ter duas faces: uma do bem

E outra do mal. É mais complicado ainda ter que ser

Feliz quando na verdade o seu EU se encontra em um

Verdadeiro inferno a crise de existência.

A emoção que vem a mim não corresponde aos fatos

E os fatos são ridículos como o amor à primeira vista.

“O mundo é para quem nasce para conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo,

Ainda que tenha razão. ”

Fugiu-nos as alegrias que haviam

Impregnadas em nossos caminhos.

A música que ouvíamos tornou-se muda,

Enquanto buscávamos a paz interior,

Acampados numa pequena mata que havia

À beira da estrada, que nos conduzia ao céu

Por entre as nuvens de afogados e canções de ninar.

Um espaço íntimo, em mim mesmo,

É preenchido por palavras consoladoras

E as tristezas imbuídas no recanto

Da profunda falta de vontade,

Simplesmente serão ceifadas

Ao romper da madrugada.

Palavras apressadas percorrem de boca em boca

E a louca vontade invade nossos egos,

Ainda meio cego me apego em seu lindo caminhar

Enquanto o olhar do menino chegava

Nas ondas do mar e sem percebermos

Que as palavras nada mais eram,

Além de simples repetições do passado,

Aquilo que ainda nos pega pelo pé.

A vez frenética de a palavra trazer à tona

Tudo aquilo que era planejado

A um preço que surgiu num só pulo

De maneira calculada para que desse certo

O jeito sutil que o menino queria.

Agitação total.

Cidade como caos.

Cão são guardas de casas.

Mirabolantemente surgem sucateamentos de vidas.

Um veneno em cada copo de bebida.

Os meios de comunicação massificam noticias fúteis.

As ideologias nos quebram a cara.

As tecnologias fabricam homens.

Homens são mortos pela tecnologia.

Onde está o nosso emprego (?).

Buscamos um frescor numas labaredas de uma lareira.

O dia-a-dia é mais quente e agitado.

A correria percorre por entre nossas veias.

O sinal vermelho está em cada face de um rosto triste:

Perigo no olhar!

Tangará da Serra – MT, 2012.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 25/06/2024
Código do texto: T8093527
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