Ó meu amor...
Quando o amor desperta em corações ardentes,
Traz consigo tantos júbilos e dores latentes,
Pois há em cada encontro um risco velado
De ver-se ao fim com o coração despedaçado.
O doce beijo, um prelúdio tão encantado,
Pode em breve tornar-se amargo e calado.
E o olhar que brilha com tal fogo e paixão,
Pode, rapidamente, nos consumir em solidão.
Oh, amor, que enlaças corações gentis
Em laços afetivos doces e suaves canções,
Por que nos torna, às vezes, tão infelizes,
Deixando-nos em mares de perdições?
Ó amor de meu paraíso infernal,
Perdido entre prazeres e penares,
Teu toque, tão terno, torna-se letal
Nos trilhos traiçoeiros dos amares.
Tua chama arde, brilhante e intensa,
Mas traz consigo o frio da incerteza,
Pois em teu fogo há alegria e desavença,
E o êxtase, às vezes, se veste de tristeza.
És flor de luz em jardim de escuridão,
És doce veneno, és cura e perdição,
Serás tu a paz ou guerra do coração,
Que nos leva ao céu ou ao abismo em vão?
Ó meu amor de meu paraíso infernal,
Coração cativo, cruel em sua confusão,
Escravo de sentimento divino e animal,
Perdido em prazer e profunda prisão.
Ó meu amor de verão tão invernal,
Ardente como o sol em seu fulgor,
Amalgama de terra e céu, colossal,
Em teus braços encontro túmulo e flor!