Vinculos e suas datas de validade
Ao assinarmos contrato
De fraternidade uns com os outros
Nos chamamos de companheiros e
Camaradas, tecemos nossas frases
Com margens coladas, mas nunca
Sobrepostas, desenhamos linhas
Em chão de concreto, delimitando nossos
Espaços, nossas memórias andam
De mãos dadas, e quando erramos
É como cair em banco de areia aconchegante
Podemos esquecer nossos apelidos
Distanciar nossas frases, aumentar as
Linhas no chão e até mesmo criar memória
Separadas, mas é questão de tempo até
Nossos vínculos voltarem à normalidade
Pois a fraternidade tem data de validade
Indefinida, e o cultivo dessa aumenta ainda
Seu caráter indefinido
O romance, por outro lado
É um contrato de mutualismo, quase
Uma simbiose, não existe mais
Meu, seu, existe apenas o nosso
Um contrato assinado em suco vermelho
De hemácias, e a partir dele, nossas frases
São idênticas, viram a mesma malha de tecido
Costurada com linhas de cores diferentes
Nossas linhas delimitantes não existem
Na maior parte do tempo, e quando existem
São tão efêmeras quanto linhas desenhadas
Em areia, apagadas pela água do mar
Nossas memórias são compartilhadas
Sem clara definição do que pertence à quem
Dividimos a vida, a carne, a alma
E quando erramos um com o outro
É como uma queda em abismo escuro
Sem ponto final, apenas uma eterna descida
Um vínculo com data de validade
Pois não importa o quão bonita seja
A decoração da parede de vidro
Que simboliza o amor
Basta apenas uma pedra
Para provocar quebra contínua
Do que sempre construímos
Igual fissão nuclear
Propagando o calor resultante
De tanta paixão guardada e compartilhada
E agora perdida