Último Olhar
O último olhar ao lindo azul celeste
É como suspiro mudo, um adeus dolente
Ao sonho que se perde no belo poente,
Nessa esperança azul que a alma tanto pede.
O último olhar ao lindo azul celeste,
É como quem busca no horizonte a paz,
Como o ser sedento que sempre traz
A fome de querer viver que não se mede.
O último olhar ao azul que a noite despontou,
E a saudade de quem tanto aqui se amou
Cai na alma como a lágrima que não se chorou
De todos os sonhos que minha vida planejou.
Ao lindo azul celeste volta-se o último olhar
Como o refúgio a um descanso imaginado,
Onde o tempo, a vida e a dor jazem ab-rogados,
E a vida, enfim, viraria a estrela no céu a brilhar.
O último olhar ao efêmero azul belo e aquém
Semelhante à busca vã por um sentido além,
No vazio onde o eterno é só sopro de amém,
No silêncio onde nunca mais ouvimos ninguém.
O último olhar ao ventre que com amor te gerou,
Aos irmãos e às irmãs com quem brincou e abraçou,
Ao pai e talvez a alguns amigos que o coração amou,
Suplicando mais um dia de vida que o fado já ceifou.
O último olhar àquele longínquo e belo céu poente
É o adeus à vida, ao mundo, ao seres, a si, ao tudo!
Naquela mudez onde não-ser é o mistério absoluto,
E a alma lá descansa e apodrece no olvidar imanente.