Último Olhar

O último olhar ao lindo azul celeste

É como suspiro mudo, um adeus dolente

Ao sonho que se perde no belo poente,

Nessa esperança azul que a alma tanto pede.

O último olhar ao lindo azul celeste,

É como quem busca no horizonte a paz,

Como o ser sedento que sempre traz

A fome de querer viver que não se mede.

O último olhar ao azul que a noite despontou,

E a saudade de quem tanto aqui se amou

Cai na alma como a lágrima que não se chorou

De todos os sonhos que minha vida planejou.

Ao lindo azul celeste volta-se o último olhar

Como o refúgio a um descanso imaginado,

Onde o tempo, a vida e a dor jazem ab-rogados,

E a vida, enfim, viraria a estrela no céu a brilhar.

O último olhar ao efêmero azul belo e aquém

Semelhante à busca vã por um sentido além,

No vazio onde o eterno é só sopro de amém,

No silêncio onde nunca mais ouvimos ninguém.

O último olhar ao ventre que com amor te gerou,

Aos irmãos e às irmãs com quem brincou e abraçou,

Ao pai e talvez a alguns amigos que o coração amou,

Suplicando mais um dia de vida que o fado já ceifou.

O último olhar àquele longínquo e belo céu poente

É o adeus à vida, ao mundo, ao seres, a si, ao tudo!

Naquela mudez onde não-ser é o mistério absoluto,

E a alma lá descansa e apodrece no olvidar imanente.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 11/06/2024
Reeditado em 12/06/2024
Código do texto: T8083697
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