Velho e hipocondríaco

Pensei que eu nunca envelheceria,

E de repente me pego comendo fibras

Preferindo ficar em casa, num dia comum.

Pensei que eu nunca iria e envelhecer,

como os zumbis decrépitos e insones,

Que eu nunca estaria por fora,

E a vida toda seria um show dos Ramones.

Aqui estou então depois de muitas agruras,

Lembrando saudoso de tantas aventuras,

Tentando ser um pouco do que fui outrora

E criticando "essa juventude de agora".

Essa é a inexorável rota,

Mais rápido que um bicho-preguiça,

mais forte que uma marmota,

Saudade do cheiro do meu suor,

Essa é a inevitável sina:

Menos churrasco e mais metformina,

Envelhecer é ruim, mas a alternativa é muito pior.

Ei, molecada insolente!

Enquanto há tempo de sobra,

Prestem atenção: o que vocês gastam, a vida cobra,

Então vejam minha situação,

Agora é bem menos cerveja e bem mais mamão,

Menos Porto Seguro e mais Campos do Jordão.

Quem está dando o alerta?

Não duvidem, seu eu mesmo, seus pentelhos,

Mais xadrez e gamão, menos futebol,

Menos chocolate e mais atenolol,

Sem chacoalhão, ninguém desperta.

Ainda é vida, valorizada e curtida,

Pequenos ajustes, mais maracujá e menos rum,

Para os friorentos: japona; para os descalços: meião;

Para mim funciona, aliás pra qualquer um,

Sempre medindo a pressão

e ouvindo a Antena 1.