HAVIA UM RATO NO CAMINHO
Eu queria a paz
e a leveza
à beira-mar,
Ele me deu
patas esmagadas
de um rato.
Queria a brisa,
sonhos, filhos
e família,
Ele me deu
sangue de rato
ruivo, espalhado
na calçada.
Caminhava
pensativo e mudo.
Eu queria amá-lo,
queria ser
pai de Deus
e Ele me deu
um susto.
Queria ser
pai do mundo,
quando quase pisei
em um rato morto
na calçada.
Queria abraçá-lo
e amá-lo.
Saudá-lo pelo belo
da criação.
Amor livre, paternal
e Ele me fez visitar
os meus piores medos.
Em segundos,
eriçou-me
o terror de viver
e em pânico
abafei o mais
profundo grito.
Não será o sangue,
nem a dor que me fará
amá-lo.
Muito menos o terror.
Tenho eternas contradições
em busca de liberdade.
Deus é
naturalmente bruto,
força inequívoca
de tudo.
Queria amá-lo
e Ele me mostrou
um rato morto,
o meu intrínseco
pavor.
Não vou
perdoa Deus,
pois enquanto
eu o inventar,
Ele não existe.
“No fundo eu quero
amar o que eu amaria,
não o que é”
O mundo me escandaliza
e me iguala , e assim encontro
a ponte para ser livre.
(Poema criado a partir do conto “Perdoando Deus” de Clarice Lispector”)