HAVIA UM RATO NO CAMINHO

Eu queria a paz

e a leveza

à beira-mar,

Ele me deu

patas esmagadas

de um rato.

Queria a brisa,

sonhos, filhos

e família,

Ele me deu

sangue de rato

ruivo, espalhado

na calçada.

Caminhava

pensativo e mudo.

Eu queria amá-lo,

queria ser

pai de Deus

e Ele me deu

um susto.

Queria ser

pai do mundo,

quando quase pisei

em um rato morto

na calçada.

Queria abraçá-lo

e amá-lo.

Saudá-lo pelo belo

da criação.

Amor livre, paternal

e Ele me fez visitar

os meus piores medos.

Em segundos,

eriçou-me

o terror de viver

e em pânico

abafei o mais

profundo grito.

Não será o sangue,

nem a dor que me fará

amá-lo.

Muito menos o terror.

Tenho eternas contradições

em busca de liberdade.

Deus é

naturalmente bruto,

força inequívoca

de tudo.

Queria amá-lo

e Ele me mostrou

um rato morto,

o meu intrínseco

pavor.

Não vou

perdoa Deus,

pois enquanto

eu o inventar,

Ele não existe.

“No fundo eu quero

amar o que eu amaria,

não o que é”

O mundo me escandaliza

e me iguala , e assim encontro

a ponte para ser livre.

(Poema criado a partir do conto “Perdoando Deus” de Clarice Lispector”)

Rosalvo Abreu
Enviado por Rosalvo Abreu em 26/05/2024
Reeditado em 26/05/2024
Código do texto: T8072258
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