O encontro divino

Eu fui à floresta cheia de silêncios e eucaliptos,

Pois minha alma anda a chorar, ferida e exausta!

Colhi algumas flores e sequei folhas em ritos,

Mordi uma saborosa amora rubra, imaculada.

E, quando borboletas estavam nos galhos bailando,

Parecendo pétalas que dançam graciosas ao ar,

Atirei algumas flores e amoras, manchas voando,

E pesquei uma carpa dourada sob o silencioso luar.

Quando coloquei a carpa sobre folhas no chão,

E fui tentar acender a triste e moribunda fogueira,

O vento crepitou, uma voz brotou da escuridão,

Uma voz sussurrou o meu ser lá perto da cachoeira.

Surgiu, de repente, uma misteriosa donzela,

Cintilando pelos carvalhos, tão serena e bela.

Com lírios entre mechas no cabelo, que visão!

Chamou-me, sumiu e reapareceu qual um clarão.

A donzela tinha olhos que refletiam o céu,

Profundos e serenos, lagos de montanha,

Seu riso era doce como um favo puro de mel,

Sua presença era o cálice de paixão tamanha .

Ela dançava entre cerejeiras com tanta graça,

Deixando fragrância celestial pelo caminho,

Seu frondoso cabelo reluzia qual dourada taça

Ao sol de ouro e prata, em sublime carinho.

Quando nossos olhares se encontraram,

Houve a promessa inaudita: um eterno laço.

Ela, Espírito da floresta que a tudo encantava,

Eu, Passageiro preso no seu intangível abraço.

Talvez esteja eu cansado de andar chorando

Por florestas cheia de carvalhos mortos e trilhas,

Vou seguir teu perfume de tal amor e encanto,

Beijar-te-ei a boca, enlaçarei tuas mãos tranquilas.

Caminharemos por bosques de vagalumes luminosos,

E juntos estaremos até o fim das estações, colhendo,

Das enluaradas noites, prateados frutos preciosos,

Banhados por estrelas, sempre nos amando e vivendo.

Nas noites de luar, a donzela cantará mil canções,

Mil histórias de trágicos amores e tempos vividos,

E saberemos, no fundo da floresta e dos corações,

Que nosso encontro foi transcende, mais que divino.

Pois em Teus braços eu encontrarei Tua manhã de paz,

E em Teus lábios beberei o ocaso eterno e belo do cais.

Abraçados rente ao rio, colheremos amoras amadas,

E num só corpo e sopro somos singela seara sagrada.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 25/05/2024
Reeditado em 26/05/2024
Código do texto: T8071490
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