MATERNIDADE INCONSCIENTE
Deu a vida, ela se deu. Ela deu sua vida a parir,
seis filhos a nutrir.
Sem saber, que paria e para onde a vida a levaria.
Não tinha casa, não tinha pais, não tinha nada. Quando criança, havia sido abandonada.
Tinha apenas um marido que demonstrava que a amava.
Ou será que somente a usava para obter o que o saciava, prazeres ainda só dos instintos.
Acho que realmente a amava, pois não deixava que ninguém a machucasse, nem a maus tratos a submetia.
De dois em dois anos ela paria, nesse intervalo
a sua vida risco corria, com abortos alternados.
A pílula só veio depois, quando ela não mais precisava. A menopausa chegava.
Assim morreu a Mãe que serviu de transporte a esses filhos, todos vítimas da própria sorte.
Uns da própria ignorância, outros incapazes de assimilar a importância da vida doada sem cobrança, a culpavam do péssimo transporte.
Ela, MÃE INCONSCIENTE, apenas devia nutrir uma leve esperança, de um dia voltar a renascer e novamente criança, ser amada e amparada para crescer e se tornar Mulher madura e decidir o que quisesse, parir, deixar de parir, apenas a uma profissão seguir e viver só, para si.
Com a proximidade da Morte falou-me,
não existe mais nada além disso aqui,
aqui é Céu, Inferno e purgatório, havia purgado
mais de dez anos dentro de um internato católico, pago com moeda corrente, pensão do pai, desde a orfandade até a maior idade.
Conheci muito do Inferno e pouco do Céu.