Num lugar qualquer, inominado

Vejo o pôr do sol chegando, sem atraso

Enquanto em mim sombras se entranham...

Envolvendo o espaço em que existo

Anoitecendo tudo quanto persisto

Manter aceso além da noite certa.

 

Instante de ruptura, angústia manifesta,

Quando se apagam as linhas do sorriso

E o homem envelhecido ainda sonha

Com as moças do outro lado do paraíso.

 

Mas paraíso não há, a não ser em contos

Que as fadas de pronto nos encantam

Prometendo ser a morte mera passagem...

 

Enquanto o pôr do sol avança...

Debochando das sacrossantas bobagens

Das crenças espetadas nos olhares

A catar eternidade no silêncio do próprio fim.

 

E quem quiser me entender, abrace-me

E consulte o que pulsa em meu coração

Pois de tudo restará uma última batida

Quando a vida não for mais vida enfim.

 

Será o sinal de que fiquei pelo que disse

Em tudo que não soube e não ensinei

No por do sol das alegrias, não há trevas

Só o apagar da consciência do que sei.