Mares Não Rasos
Em dias doentes, em meio a nuvens de tristezas,
os céus recuam e não oferecem doçura ou alívio algum.
Quando tudo parece não caber, tento traduzir o indizível
num desaguar de palavras a chover por dentro.
Onde a dor é livre e pura, subverte e despe qualquer ilusão do querer.
No silêncio, a minha voz, uma sutileza da minha loucura,
mundos surgem na minha mente, mares não rasos, sentimentos improváveis,
conversas profundas, paisagens imaginárias,
lugares onde possam morar os meus pensamentos cansados
e as melhores batidas do meu coração.
Que muito sente, pouco se guarda,
que é de verdade até pra quem é imaginação.
E assim, entre o dizer e o sentir, ou o não fazer de nenhum deles,
o sonho se vai todo dia, mas o absurdo fica,
na intensidade de quem sempre busca,
nos olhos que falam, no tocar de palavras não ditas,
que podem ser lidas na pupila, mas que raramente são.
Vontade inquieta, que não se distrai, nem se explica,
que pode levar uma vida inteira para passar ou que às vezes não passa nunca.
Sina de quem tenta ser poeta, sem nunca ter sido poesia.