ÊXTASE DE DOR

Eu sentado na cadeira balançante

Observando a figura do gigante

Posto em meu estreito caminho

Para sucumbir-me aos pouquinhos

Sem que eu possa fazer nada

Capaz de impedi-lo de tal ação.

Eu figuro o quase nada ausente

Eu seguro inelutavelmente

Em uma rocha dura,

Mas a ventania é forte demais

Que balança todas as minhas estruturas.

Sou uma gangorra em movimento

Sinto uma grande dor por dentro

Não consigo esconder tamanha mágoa

Que perfila em meu caminhar tedioso.

Há uma falta de esperança no olhar

Há momento de mais pura acidez

Há o exaurimento das águas do mar

Há momentos de quase pura embriaguez.

Embriago-me na mais pura sonolência

Não consigo carregar o peso de meu corpo cansado

Há o acúmulo de experiências

Em meu rosto petrificado.

A vida perde o sentido

Transfigurando-se em êxtase de dor

Sou a falta de um abraço amigo

Sou um silêncio carregado de horror.

* poesia publicada no livro "Êxtase de Dor" em 1999 pela Editora João Scortecci.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 20/04/2024
Código do texto: T8046254
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