OUTRA FORMA DE AMAR

Também tiram-me

o céu de sob os pés...

pois bem; fingirei calar-me.

Que ilusão!

Vou mergulhar

na opulência

das cores e pintar.

Pintar e pintar,

com a devoção

que se deve amar!

Ai meu Deus!

Como eu desejo

somente pintar!

Ocultar-me-ei

no branco da calla

e das camélias,

vou exaltar os

cachos de jacinto

de todas as cores,

como se um tapete

de prímulas

ou balsaminas

eu pintasse.

Quero sentir

a força do amarelo

do girassol e

do amarílis

e também

a profusão

do amor perfeito.

Vou emoldurar com a bardana

as mechas das lavandas

e as névoas de oleandros,

e hei de definir as pinceladas

verticais com a

personalidade do delfínio.

Próximo das flores

azuis vou mesclar o

violeta do limonium

e das lobélias,

talvez salpicado

com pontos de miosótis

e ranhuras de rosmaninho.

Vou ferir tal degradê

com tufos do vermelho

da poinsétia,

sim eu juro que

o farei, com

a luxúria da espátula.

Contudo,

depois de embriagar-me

com o cheiro do nardo;

das rosas e papoulas,

pintarei o seu retrato

com um mágico olhar.

Para consolidar o fundo,

vou cravar a consólida

entre cravos e cravinas

diluídas com

óleo e terebentina.

Acometido por

derradeiros delírios,

finalizo a tela com

borrões de lírios e heras;

e urge por

acónitos, com

um toque de urze

entre as folhagens

numa repentina

sempre-viva

vontade de te amar.

.