De todo lugar e de todas as eras
Eu sou de todo lugar e de todas as eras,
Todos os tempos moram dentro de mim.
Prendi as ideias, soltei todas as feras
E libertei-me das alienantes quimeras.
Pergunte ao sol se não foi assim!?
Mas não pergunte à lua sobre isso tudo,
Pois a sua resposta pode ser uma elipse,
Porque eu vim do nada, mas, contudo,
O que aprendi foi com muito estudo,
As coisas que sei ela não viu, pelo eclipse.
E a lua não é uma testemunha certa,
Porque, também, se fica nublado o céu
Ao resplendor de uma manhã deserta,
À sua vista permanece oculta, encoberta,
Como escondida por uma cortina ou véu.
Mas, eu vi nascer os relâmpagos, os trovões e as tempestades,
Vi caírem do céu os meteoros incandescentes,
Vi os vulcões vomitarem a azia do hades,
Eu vi o mar, em ressacas, lamber cidades,
E os humanos se revelarem indolentes.
Eu vi a semente criar forma no ventre materno,
E o fruto dessa semente chorar e passar fome,
Sem saber que a embalava o colo pós-moderno
Com coisas fúteis, isoladas do eterno,
Até teve custo a atribuição do próprio nome.
Corri e andei até minhas forças ficarem exauridas,
Desesperado, não tive paz e perdi a calma,
E ainda que em mim vivessem muitas vidas,
Nada encontrei para curar estas feridas,
Então chorei até secarem as lágrimas da minh’alma.
As minhas feridas eu não sei se terão fim,
Como não sabe a lua a conta de suas crateras.
Pergunte ao sol se não é, mesmo, assim!?
Porque os tempos todos vivem dentro de mim,
Eu sou de todo lugar e de todas as eras.
(No meu livro "EU, primeira pessoa do SINGULAR", páginas 67 e 68)