O tempo e o vento e o mar
O tempo escreve nas areias da praia,
frases que de pronto são apagadas.
Quando não levada pelas ondas,
pelos ventos crestados
que tangem os grãos de areia para lá e para cá...,
e o tempo persiste em poetizar!
E o de novo escreve, escreve, escreve...
Mas o que quer dizer, o tempo?,
se não versos lânguidos e meiguiceiros?,
que por vezes cavalga ondas; por vezes cavalga o vento;
de déu em déu, sempre lânguidos e meiguiceiros.
Uma ampulheta poética de tessitura firme:
as areias, as ondas do mar, os ventos burlescos
e o vazio de dizeres, em poética risível,
quando os versos se vão!
Quando as ondas o levam para além mar;
quando os ventos os tange com picardia...,
mas tudo tem tempo.
Tempo pra rir e tempo pra chorar...
Tempo pra ir e tempo pra voltar...
Tempo de errar e tempo de acertar...
Tempo de voltar ao passado
e tempo de dar um passo à frente..., ao futuro.
Quando o tempo se esvai em sutilezas,
tal como a fluidez das águas que enche o mar,
ver-se que até no humores se assemelham!
O mar com suas marés; o tempo com suas querelas!
O mar, manante e escorregadio;
o tempo, fluido e inexorável, tanto quanto!
Quanta poesia insiste o tempo a espalhar?!