PARA SEMPRE RESISTÊNCIA
PARA SEMPRE RESISTÊNCIA
Venho de muitos lugares
De remada em remada cheguei
Viajei por muitos dias
Minha memória mergulhei
Nas águas de muitos rios
Fluida se tornou, fluida deixei
Mesmo amarrado, acorrentado
Meu povo nunca neguei
Sou herança de um legado
Pelo "invasor" escravizado
Na mata me refugiei
Foram tempos de aflição
Mataram meu povo irmão
Outros foram levados para a guerra
Estratégias encontrei
De resistir ao processo de genocídio
Glotocídio, memoricídio
Contra todos esses "ídios" lutei
Recebi o apelido de "índio"
De "selvagem", "bicho do mato".
Me viram como um ser sem Deus e sem alma
Espera, te acalma
Uma cruz me foi imposta
Como "batismo e salvação"
Invisibilizaram Maíra
Jurupari e Tururucari
Guaricaya e Nhanderu
Meu maracá e rituais
Na busca do El Dourado
Os povos que viveram nesse período na Amazônia
Já tinham uma economia sustentável
Cooperavam entre si e com a natureza
Faziam dela a realeza
Que comandava a circularidade do tempo
O bem-viver foi violado
A natureza como templo sagrado se calou
O tempo foi modificado
O território cobiçado
O clima alterado
E a guerra se instaurou
E ainda hoje somos culpados
Por sermos entrave para o progresso
Porque os territórios indígenas
Tem riqueza e R$: (valor)
Madeira de lei
Pedras preciosas
Petróleo
Ouro
Visto como exploração
Não importa se o rio é tataravô
Vai sofrer contaminação
Desde o tempo dos ancestrais
Meus saberes são guardados
Não me curvo ao esquecimento
Sou a luta dos antepassados
Sou a palavra/flecha lançada
Que carrega ensinamento
Legado e memória
Identidade é ter clareza
De que as narrativas fortalecem a história
Fazendo referência e respeitando
Os que vieram antes de nós
Ser indígena é comprometimento
Para ecoar é preciso ter voz
Porque não se pode deixar de ser
Para sempre resistência.
Poema de: Márcia Wayna Kambeba
Data:31/03/2024