Fado da carne e do amor...
Na carne macia, vaidosa e suculenta,
Penetra a flor aflita da paixão a lira:
É o fado, é o acaso, é a maré violenta
Neste mar de desejos que tanto delira.
Nos lábios, o doce sabor sagrado;
Na pele, o calor fresco de sereia!
É o fado que santifica o reles pecado,
É a paixão que nos guia pela candeia.
No olhar, cintila o brilho da Lua cheia;
No peito, a chaga eucarística do amor:
É o fado que aos amantes incendeia,
É a paixão do júbilo à prazerosa dor.
Na carne, canta a luxúria que a tudo inflama,
Na paixão, o desejo é chaga e flama insurreta;
É Deus que céus e inferno na carne derrama,
É a carne que Deus fez de matéria incompleta.
Na paixão dos puros e inseguros, fulge o Fado
Flamejante e fugidio, fundindo-se no frágil fluir;
Amor, ardente e etéreo, como um Pégaso alado,
Funde todo desejo e espírito no útero do Devir.
Oh louco amor que incendeia sem medida!
Oh fado que beija e escarra tantas iludidas!
Voa a paixão no peito de fogo do pássaro encantado
Que engravida a nossa carne num novo ser e fado.