Fado da carne e do amor...

Na carne macia, vaidosa e suculenta,

Penetra a flor aflita da paixão a lira:

É o fado, é o acaso, é a maré violenta

Neste mar de desejos que tanto delira.

Nos lábios, o doce sabor sagrado;

Na pele, o calor fresco de sereia!

É o fado que santifica o reles pecado,

É a paixão que nos guia pela candeia.

No olhar, cintila o brilho da Lua cheia;

No peito, a chaga eucarística do amor:

É o fado que aos amantes incendeia,

É a paixão do júbilo à prazerosa dor.

Na carne, canta a luxúria que a tudo inflama,

Na paixão, o desejo é chaga e flama insurreta;

É Deus que céus e inferno na carne derrama,

É a carne que Deus fez de matéria incompleta.

Na paixão dos puros e inseguros, fulge o Fado

Flamejante e fugidio, fundindo-se no frágil fluir;

Amor, ardente e etéreo, como um Pégaso alado,

Funde todo desejo e espírito no útero do Devir.

Oh louco amor que incendeia sem medida!

Oh fado que beija e escarra tantas iludidas!

Voa a paixão no peito de fogo do pássaro encantado

Que engravida a nossa carne num novo ser e fado.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 20/03/2024
Reeditado em 22/03/2024
Código do texto: T8024389
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