NA SOLIDÃO DO CAMAROM - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros Rio de Janeiro Brasil

NA SOLIDÃO DO CAMARIM - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros

Na solidão do camarim, ela retira

A maquiagem...quando a tinta se desbota,

Ela percebe que o espelho onde se mira

Revela um rosto que ela vê...mas ninguém nota.

Ela se despe, troca a roupa da atriz

Pela mulher que a personagem escondeu,

Mas a verdade deixa tanta cicatriz,

Que ela nem sabe se aquele rosto é seu.

Ela decora tantos textos, seu papel

Nem sempre é de personagem principal;

Se erra a fala, a platéia é cruel,

Pois quer ouvir o texto mais original.

Ela atravessa a escuridão do auditório

E enquanto pisa a solidão do corredor,

Nota que a vida deixa em cada repertório

A sensação de ter vivido um novo amor.

Ela, então, ganhando as ruas da cidade,

Mirando as luzes coloridas de neon,

Sente na boca a sensual ansiedade

De retocar mais uma vez o seu batom

E se transforma em uma nova personagem

Com sua boca enfeitada de carmim,

Mas quando volta...já desfeita a maquiagem,

Ela retorna à solidão... do camarim.

...

Às 21 h e 44 min do dia 19 de março de 2009 do Rio de Janeiro.