OSSOS POROSOS
Ela nunca mais ouviu,
alguém lhe dizer: “Eu te amo!”
E por isso seus ossos
são tão quebradiços agora.
Seu amor morreu há muitos anos
e não replicou a declaração:
“Eu te amo!”
Naquele filme caseiro antigo
seu amor poderia ter repetido:
“Eu te amo!
Não se quebre!”,
Mas nada foi dito e agora,
a idosa sobe e desce as escadas da sua casa,
sabendo que um dia
os ossos da perna romperão
e isso porque aquela declaração de amor,
não ressoou mais.
“Eu te amo!”
“Eu te amo!”
Em sonho a frase poderia salvá-la
mas a voz do seu amado está tão distante.
Como sonhar com tal afirmação
ou sua variante:
“Eu te quero!”
A idosa vive
já com a textura óssea reduzida;
com espaços mal preservados;
já com a Artrose chegando
à memória afetiva.
Ah! Ainda assim,
ela pode repetir esperançosa
embora fraturada,
a frase da conciliação eterna
que, às vezes, corrige toda uma estrutura.
Porque não retornar
ao vigor do primeiro encontro
depois daquela primeira vez juntos,
a despedida hoje pode ecoar acima dos ossos:
“Eu espero você amanhã, meu amor!”