O poeta enluarado
No copioso caminho calmo,
O vórtice do vento vem e vai,
Sussurrando ledos segredos
Sob o silente sol que sempre cai.
Nas noturnas noites nuas e nítidas,
Lá e cá, está a Lua lânguida e linda;
O rio e o remo luzindo lágrimas leves,
E as leves lágrimas reluzindo pelo rio.
Os pássaros piam e planam nos planaltos pálidos,
Entre sombras serenas, sopro e suspiro cálidos.
E todas as vívidas vidas, loucas e líricas se alimentam
Em letras, laços, traços e línguas que se fomentam.
No recanto do canto, o canto canta e se consola,
Em murmúrios maternos, a melodia se enrola.
Simples sons, relevos e segredos se semeiam
Pelas mãos do poeta que na linguagem passeiam.
À beira de si, o aluado poeta escreve, enluarado,
Entre risos e prantos, o existir desentranhado.
A Lua, lâmpada lírica a luzir, cria grávidos cenários,
E o poema, celeste óvulo branco, é com amor fecundado.