... E POR FALAR EM FLORES
(à rosa de Vinícius de Moraes)
Toda vez
que você pensar
naquelas crianças mudas,
telepáticas,
que nunca viram,
que jamais verão
as verdadeiras rosas
de Hiroshima,
naquelas crianças
agarradas às saias rotas
de mulheres-mães
para sempre erráticas,
para sempre esperando
maridos repentinamente ausentes,
perdidos qual barcos
sem vela e sem prumo
vagando sobre águas
instantaneamente radioativas,
que banham terras
instantaneamente e para sempre
sem colheitas,
onde antes
havia primaveras enfeitadas
por flores
e por cânticos,
mas que agora
só conhecem
a poeira hereditária
e a sombra de almas
roídas por cirroses …
Toda vez
que você nisso pensar,
será difícil escolher,
dentre as minúcias
do seu dia tão comum
e tão gentil,
qual delas
você irá afagar.