ELE E EU
Quando nasci
nasceram as incertezas,
o mal dos-sete-dias,
caxumba, sapinhos…
E à noite
era Deus e Eu.
Cambaleei
na primeira paixão,
quase morri de desejos
do primeiro beijo…
Era o travesseiro,
Deus e Eu.
Na mocidade
vivi aventuras,
subi morros
e de perto vi
a morte…
Nas madrugadas
era Deus e Eu.
Tive filhos, esposas,
confrontos e cansaços.
Alegrias e afetos.
No silêncio
era Deus e Eu.
Viajei, conheci
partes do mundo,
e sempre tinha
um aperto no peito,
saudade do meu
recanto.
Pelos caminhos
era Deus e Eu.
Ao final da tarde,
num belo arrebol,
chega a velhice
e lá estão,
sempre juntos,
incansáveis…
Deus
e um fiel ateu.