ALIMENTOS QUE OS BOIS ME TIRARAM

“Meu Deus”

Deus,

Dê-me grama

Deus,

Dê-me capim

Deus eu quero minha alimentação

Que os bois tiraram de mim

Deus me dê à floresta

O meu fundo de quintal

Quero também um pequeno córrego

Para eu poder tomar banho e pescar

Eu quero plantar arroz

Feijão, mandioca, milho, abóbora e amendoim,

Mas preciso de um pedaço de terra

Meu Deus, por favor, confie em mim!

Mas já que o senhor anda muito ocupado

Com as contabilidades do seu dia-a-dia

Quero apenas uma grama meu Deus

Para eu não morrer com a barriga vazia

Eu quero um pouco de inteligência meu Deus

Para eu poder reivindicar parte de sua terra

Para eu cultivar.

Já que toda sua terra

Foi entregue ao capital

Por isso morro de fome, meu Deus,

Nesse imenso cafezal

A história de suas terras, meu Deus,

É tão complicada

Trazendo as guerras santas

E as santas cruzadas

Passaram pelas sesmarias

E o processo de latifundização

Mas até agora continuo sem nem um grão

De areia, meu Deus,

Quanto mais um torrão.

Deus me dê uma grama

Do ouro em sua terra explorado

Por favor, não me deixe morrer de fome, meu Deus!

Isso é feio para o seu reinado

Essa fome que eu digo

É fome de justiça também

É igual à fome de Jesus Cristo

Nosso rei que morreu de fome de justiça também.

Morro de São Paulo - BA, 1014.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 26/02/2024
Código do texto: T8007791
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