ALIMENTOS QUE OS BOIS ME TIRARAM
“Meu Deus”
Deus,
Dê-me grama
Deus,
Dê-me capim
Deus eu quero minha alimentação
Que os bois tiraram de mim
Deus me dê à floresta
O meu fundo de quintal
Quero também um pequeno córrego
Para eu poder tomar banho e pescar
Eu quero plantar arroz
Feijão, mandioca, milho, abóbora e amendoim,
Mas preciso de um pedaço de terra
Meu Deus, por favor, confie em mim!
Mas já que o senhor anda muito ocupado
Com as contabilidades do seu dia-a-dia
Quero apenas uma grama meu Deus
Para eu não morrer com a barriga vazia
Eu quero um pouco de inteligência meu Deus
Para eu poder reivindicar parte de sua terra
Para eu cultivar.
Já que toda sua terra
Foi entregue ao capital
Por isso morro de fome, meu Deus,
Nesse imenso cafezal
A história de suas terras, meu Deus,
É tão complicada
Trazendo as guerras santas
E as santas cruzadas
Passaram pelas sesmarias
E o processo de latifundização
Mas até agora continuo sem nem um grão
De areia, meu Deus,
Quanto mais um torrão.
Deus me dê uma grama
Do ouro em sua terra explorado
Por favor, não me deixe morrer de fome, meu Deus!
Isso é feio para o seu reinado
Essa fome que eu digo
É fome de justiça também
É igual à fome de Jesus Cristo
Nosso rei que morreu de fome de justiça também.
Morro de São Paulo - BA, 1014.