GAZA
GAZA
A noite escoava, serena,
surfando a madrugada
fria e trêmula;
úmida às carícias das horas,
jazia nas encostas, nua, nas ruas...
repleta, movia sonhos, temores e alegrias;
resgatava amores mutilados e fantasias.
Do sereno, a voz hipoaudível
embalava sonhadores adormecidos;
imersos em júbilos e canções,
evocavam augúrios, alheios aos metais
flutuantes, aos estilhaços letais
esvoaçantes às explosões.
Afônicas palavras, sombrio murmúrio,
proclamavam, em desatino,
inglório destino.
No céu, o brilho fosco da bélica aurora,
imperioso e letífero dispersava-se;
respondia ao doloso apelo da maldade,
inumava o etéreo sonho universal,
consagrava o ringue sinistro;
cascatas de sangue, infaustas,
o céu radiante, refletia.
Emergiam vívidas, mortais estrelas
múltiplas entre nuvens, refulgentes;
entre corpos pálidos e vidas cálidas,
raios fúlgidos dispergentes,
seus faróis incandescentes emitiam;
iluminavam, no pardo horizonte,
a tragédia em cinzas, escombros fatais.
A fumosa hecatombe desalento nutria
à fenecida esperança,
ingurgitava, aos plácidos, desespero;
o silêncio exequial despedia a ilusão prescrita,
amarga pílula dourada, vidas renhidas.
Corpos imolados, à margem empilhados;
inumações imprecisas, restos em metal,
trevas insepultas, vivos destroços gementes;
no remanso letal retorcido entre ferros acúleos,
vidas em pó, dispersas ao vento, alimentavam
siameses aguerridos, poder e morte.
Eles, garbosos, operam ciosos a seus fins.
_______Albino Veloso_____________