O MEU EU VERDADEIRO
Ligo a televisão , degusto um café amargo
jogado no sofá, está o livro do Saramago
Ás notícias na tv passam rápido
não dá para absorver , tantas desgraças
o amargo não fica só no meu palato
Olho pela janela , a noite está propícia
para os amantes , lua cheia
estrelas cintilantes
brisas suaves vindas do mar
eles podem se amar , com o perfume da maresia
De repente sinto um pouco de alegria
minha face sisuda , tem um espasmo
ameaço dar um sorriso
mas me fecho de forma urgente
lembro-me de uma cárie que tenho no dente
Vou até o espelho vejo a dor do meu interior
não vejo nada por fora , essa face refletida
é uma máscara que escondia
o que , eu sou de verdade
Uma , a`lma infeliz , que nunca conseguiu ler
o livro do Saramago
o livro está ali , só de enfeite
que para não sorrir
usa a desculpa da cárie no dente
e que nunca amou
e nem foi amado
numa noite de lua cheia
Num ato de desespero, dou um soco no espelho
vejo meu reflexo fragmentado
vou recomeçar tudo de novo
vou juntar meus cacos
curar meus ferimentos
vou renascer por dentro...
Vem em mim as reminiscências
nos tempos de criança
onde tudo era belo
eu sorria mesmo banguelo
lia gibis que me davam alegrias
sonhava nas noites de lua
acredito que dentro de mim
ainda existe essa essência tão pura
Não quero envelhecer de forma tão amarga
preciso curar , minh`alma escura
sim acho que ainda há esperança
e vou começar agora
catando meus fragmentos
e jogando tudo fora
pois esse reflexo que via no espelho
não era o meu , Eu Verdadeiro