Sono
Estou com um sono hermético
Tão complicado que é de tempos que o sinto. Parece que este sono, lembrando a morte, me pesa no peito.
Não é um peso sufocante, mas sim calmo
Que lembra a revoada dos pássaros
O descansar de um doente
Uma sensação de beijo por quem se está apaixonado.
As palavras embaralham-se propositalmente.
O céu parece o itinerário deste meu ser cansado e humano.
Criam-se-me asas, como se eu fosse
Um cupido que esqueceu de trabalhar. As coisas do mundo
Nem me importam mais
Embaralham-se os pensamentos
As memórias do dia de ontem
Um beijo de uma deusa recém nascida
Que controla os riachos e o cair das folhas
E dá de brincadeira a direção dos ventos
E a posição das estrelas
E acabo por adormecer, semimorto
Num dia inútil a qualquer progresso
E aspiração alta.