Denegrir

Denegrir

É um verbete assaz

Antigo de linhagem

Que em velho mundo jaz:

O latim, linguagem

De cujo talo herbáceo

Brotou, de Portugal, a voz

E outras rosas do lácio,

Que, dos mares, pela foz,

Desde então, povoa

As páginas desta língua,

Transbordando de Lisboa

Para estas restingas.

Mas, como vocábulo,

Hoje, o potro tordilho,

Que, desse estábulo

De verbetes, o brilho

Da pelagem escura

Reluzia tanto quanto

A cerda alva e pura

Do lexema “branco”,

Agoniza à artilharia

Dessa horda insana

Que não enxerga a poesia

Que a palavra inflama.

Não há culpa nem pecado

Na palavra expressa

Nem deve ser condenado

Um termo que se pareça,

No semblante escrito

Ou na melodia sonora,

Com outro mais bonito

Na imagem que exora.

Denegrir, isto posto,

Se precede a escravidão

Nestas terras de desgosto,

É vítima e não vilão.