*JOÃO NINGUÉM

Não tinha nome, mas todos o conheciam

Não tinha casa, só um barraco

deteriorado caindo aos pedaços

Não tinha cama, dormia em tábuas

Não tinha luz, não cozinhava

Só tinha café frio e borrado

Ao pé do fogão a lenha quase apagado

Não tinha tempo, passava correndo

sempre ocupado - dizia ele- com o gado

Andava a cavalo e do seu lado,

seu vira-lata magro pedindo um bocado

Comiam por dois cada um, apressados

Tinha filhos - diziam- não família

Se tinha amor, ninguém sabia

Uns lhe achavam " um coitado!"

Outros apontavam "um miserável"!

Pra que tanta terra e tanta lida?

Por que tanta vida se só respira?

Em 02/02/24