A Terra
Ali, na imensidão da pampa,
Nas terras que me são familiares
Mas agora estranhas...
Ali está o meu tesouro
Ali se encontra a minha vida,
O sentido do meus dias,
A razão da minha existência.
Ali eu plantei as searas que não colhi,
E se colhi me foram levadas
Por pássaros roubadores...
Ali eu construí meu sonho
Que não vivi, e que presenciei
Outros viverem por mim...
Ali, naquela terra na imensidão da pampa,
Eu construi meus castelos,
Encilhei meu cavalos,
Amansei meus bois,
Lavrei a terra com meus arados,
E a preparei com minhas mãos,
Para a colheita que não veio.
Ali na imensidão da pampa,
Eu construí meus sonhos,
Cuja antagônica realidade chegou tão rápida
E de tal maneira devastadora,
Que me jogou no comprido dos corredores,
Que agora são meus campos.
E ,meus castelos são barracas de lonas,
Cujas goteiras encharcam de lágrimas
Os tapetes de barro do meu chão,
E sujam de dores as minhas salas.
Mas a minha terra está garantida,
João Cabral de Melo Neto,
Em sua Morte e Vida Severina
Me garante a propriedade,
De sete palmos de boa terra,
De definitiva terra!
Que são meus por testamento
E plenamente suficientes,
Para cobrir meu corpo,
Que agora se arrasta meio vivo,
E que um dia repousará,
Totalmente, morto.
Ali, na imensidão da pampa,
Nas terras que me são familiares,
Mas agora estranhas,
repousarei, finalmente, calmo,
Sem desejos que possam incomodar
quaisquer senhores!!!