Dias e Luas
Caiu em si,
após dias e luas.
Culpou-se por deixar-se nua,
muda.
Sempre inteira, cheia,
abandonou-se à revelia.
Margeou rios distantes,
não se ouvia mais.
Exposta pelas palavras,
as não ditas, entalada.
Respondia como se nada fosse,
mas era.
A raiva a salvou,
mesmo assim, doeu-lhe a garganta.
Vomitou as palavras ditas,
pensou ser o amargor da dose, não era.
Gritou "nunca mais", mas a voz não saiu,
queria dizer, mas não conseguiu.
Estranhou, esqueceu tudo que ouviu,
apagou tudo que viu.
Veio à memória a lua plácida,
seu pai falando coisas da vida,
sua mãe ao piano, a cantoria.
Mas foi traída pelas palavras, aquelas.
Enfim, lembrou-se de quem era,
organizou as gavetas,
e dormiu por dias e luas.
Acordou como se nascesse,
e nasceu. Renasceu lua nova.