Dias e Luas

Caiu em si,

após dias e luas.

Culpou-se por deixar-se nua,

muda.

Sempre inteira, cheia,

abandonou-se à revelia.

Margeou rios distantes,

não se ouvia mais.

Exposta pelas palavras,

as não ditas, entalada.

Respondia como se nada fosse,

mas era.

A raiva a salvou,

mesmo assim, doeu-lhe a garganta.

Vomitou as palavras ditas,

pensou ser o amargor da dose, não era.

Gritou "nunca mais", mas a voz não saiu,

queria dizer, mas não conseguiu.

Estranhou, esqueceu tudo que ouviu,

apagou tudo que viu.

Veio à memória a lua plácida,

seu pai falando coisas da vida,

sua mãe ao piano, a cantoria.

Mas foi traída pelas palavras, aquelas.

Enfim, lembrou-se de quem era,

organizou as gavetas,

e dormiu por dias e luas.

Acordou como se nascesse,

e nasceu. Renasceu lua nova.

Ana Gomyde
Enviado por Ana Gomyde em 31/01/2024
Reeditado em 31/01/2024
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