TOLAMENTE MUDO

De manhã. o morador de rua,

sobrevivente das ruas de São Paulo,

grita no meio da praça da Sé.

O morador deve ser louco

e assim totalmente lesado

é tolamente livre.

Ele grita

e a loucura o afasta

das questões do mundo,

do processamento das coisas,

das possibilidades,

e da existência de limites

É isso o que deduzo agora,

de qualquer grito.

Passo na praça

no momento do grito de outro morador de rua,

ele berra como um cão respondendo

ao chamado matinal de outros cães.

É matutino

e soltará toda a matilha em instantes,

pois já escuto um terceiro grito.

Esse é fundo, doído e comprido.

Três gritos,

eu deveria acompanhá-los.

Gritar como um quarto morador,

respondendo ao chamado

de um delírio que tive à noite,

mas prossigo silenciado,

totalmente calado,

tolamente emudecido

rumo ao meu escritório.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 27/01/2024
Código do texto: T7986248
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