FILHOS DA VIOLÊNCIA

Filhos da violência

Fecho os olhos,

não sei se teria coragem

para entrar dentro de mim

de olhos abertos.

Prefiro assim

e abri-los cautelosamente

á medida que me vou afundando

no meu subconsciente.

Eu tinha razão,

se entrasse de olhos bem abertos

seria um choque.

Meu Deus

a quantidade de lixo que aqui há!

Isto é lixo acumulado há anos e anos.

Agora compreendo a minha revolta,

a minha raiva,

o meu comportamento explosivo.

Passei a infância, a adolescência

e parte da minha vida adulta,

assistindo a toda a sorte de violência.

Interiorizei isso como coisa normal

e sobre essa mixórdia

construí a minha personalidade.

Foram as ferramentas que me deram

para eu crescer.

Está tudo aqui no fundo

e eu estou atolada na merda

até aos ombros.

Ajudem-me a a dar o fora daqui

porque eu sozinha não consigo.

O cheiro é tão nauseabundo

que eu temo perder os sentidos.

De quem é a culpa?

Será minha

por não ter conseguido ser forte

e não ter suplantado a minha “fraqueza?”

Será culpa minha

por ter assimilado involuntariamente

tão ruins ensinamentos?

Eu assistia á mesma lição todos os dias.

A culpa não é minha.

Não eram meus os pontapés e ralhos.

Cresci num ambiente onde havia violência.

Comi o pão que me deram

amassado e cozido pelos maus-tratos!

Maria D. Reis

26/01/24

Portugal 🇵🇹

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 27/01/2024
Reeditado em 27/01/2024
Código do texto: T7985570
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