Caminhada pelo abismo
Caminho pelo abismo com um revólver,
Onde a luz do divino se obscurece;
A tristeza, como névoa, me envolve,
E o coração em preces se estremece.
Oh, visões de um mundo frio além do véu,
Onde os anjos choram lágrimas de sangue,
Onde os sinos do destino batem em escarcéu,
E o amor corta os pulsos na banheira exangue.
A emudecida orquestra melancólica da existência
Ressoa como o enforcado na corda da despedida,
Onde o templo da piedade se corrói em decadência,
E a jornada da vida pula e se afoga no rio, perdida.
Oh contemplação sombria da eternidade,
Onde o coração se perde em fé e insanidade,
Entre as ruínas do que foi divinizado e amado.
A redentora luz celeste, que já se apagou,
Deixa a alma em pranto, como um fado,
Cantando a esperança que o peito sepultou.
A vida é este sedutor abismo profundo da tristeza
Que dispara a bala da vileza: da ida e do pó a certeza.