Para Eduardo Galeano, in memoriam
Diz-me, então, Galeano
O que vamos beber...
Um macchiato, um cortado
Neste café dependurado
Sobre um passado de reis.
Ou quem sabe, talvez
Bater pernas por Sarandi
Fotografando no olhar as moças
No seu fluido ir e vir.
Falemos, pois, do sempre sonho
Do centenário futebol
Lembremos das douradas batalhas
Entre o Nacional e o Peñarol.
Será, porém, preciso falar
Sobre o destino da poesia
Que faz muito agoniza
Ferida por esvaziada alegria.
Ninguém mais, meu bom esteta
Reflete sobre o sumo da vivência
Contentam-se com imagens apagadas
Coloridas por abissal indiferença.
Em tua Montevideo arcaica, a luz
De um tempo que nos espreita
É o cartão postal que me seduz.
Nela posso ser antigo, mesmo velho
E as poesias que ainda almejo
Brilham vivas em secular espelho.
Crédito da imagem:https://www.lpm-blog.com.br/?p=27029