183°
Escrevo nessa madrugada ao esmo
Sem a pretensão de deixar de viver
Estou escrevendo por ter que suportar
A vida e sua tirania contra a morte
Minha imortalidade ficará na escrita
Minha sorte é sobreviver todos os dias
Sou a poesia vazia do entardecer
A febre do anoitecer e a dor do amanhecer
Não sou o poeta do fim da festa
Que todos querem ouvir recitar um poema
Sou apenas um simples e reles mortal
Escrevendo as experiências de uma vida tardia
Perdida numa tarde qualquer
Sou a dádiva do dia a dia
A loucura que a madrugada quer
Sou tarde com meus versos
Meus juramentos são episódios
De uma vida sem escrúpulos
Aguardando o embate entre a vida e a morte
Otreblig Solrac - O poeta burro