PORONGOS
A batalha de porongos se revive a cada dia.
Lanceiros negros mendigando nas esquinas.
Outros negros senguem a trote
enchendo a lotação Leopoldina.
Cinco e meia da manhã.
Na batalha da vida, seguem no combate...
contra a fome, contra a desigualdade...
Dia a dia, sal e sol, labor e luta.
Operários do destino,
guerreiros de fibra... leais,
dos quais o futuro fora tirado há 170 anos.
Hoje, pobres, farrapos no más,
seguindo em busca de seus ideais.
Entre si, a fraternidade
buscando humanidade
e sem liberdade...
Não há liberdade quando há fome sobre a mesa...
Lhes roubaram a humanidade em troca de riquezas.
Os discursos de igualdade se resumem a um salário 30% menor
e má condições de vida.
No quilombo, o saneamento é o pior.
Pro patrão, sombra e água fresca;
pro guerreiro negro, labor, sangue e suor.
Um lanceiro e um guarda-chuvas fora morto por engano
- 257 enganos contra o lanceiro musical-
Mariele fora guerreira, lanceira negra na antiga capital.
Capitão e general lhes tiraram as armas da batalha
sem emprego e sem medalhas
a mercê do capital.
Resistem lanceiros nas margens da capital,
Rubem Berta, Leopoldina.
Seguem firme a sua sina
na batalha desigual
de viver com menos pão,
chorando mais o sal,
tingindo de rubro negro
a manchete do jornal.
Se revive dia a dia, hora a hora,
a batalha de porongos no seio da capital.