Passagem para o Infinito
No leito de morte jazem todos os sonhos,
Concluídos e inacabados, passados e futuros,
Olhos fechados, boca cerrada, silêncio profundo,
Alheios aos rastros de dor e tristeza que deixam no mundo.
No leito de morte, ficam as palavras não ditas,
Os beijos não dados, abraços apertados que não existiram,
Os contos, os risos, as piadas que faziam rir até chorar,
Ficam ali, parados, silenciados, as lágrimas são dos que ficam.
No leito de morte, os que ficam se lembram da vida,
Dos momentos passados, dos planos que não se cumpriram,
Se lembram que a vida é um segundo da nossa existência,
E no outro segundo, a certeza de que o fim é iminente e sorrateiro.
No leito de morte, aqueles que ficam não veem a passagem,
Não veem que o mundo não termina num sepulcro solitário,
Que os amigos que já se foram, voltam alegres e festejam,
A triste partida aqui, é festa de chegada na vida verdadeira.
No Leito de morte, sem que possamos ver, existe vida,
Vida em abundância, pais, avós, amigos e irmãos,
De sangue e de jornada, enfim se encontram, e se cumprimentam,
A vida segue, de um lado e de outro, a morte é passageira.
No leito de morte, aqueles que deixam a vida efêmera,
Descobrem que a vida é interminável trabalho de renovação,
Os que se vão, aguardam com saudade os que virão,
E o amor continua vivo, seja aqui ou em outra dimensão.