Inexorável
Gesto simples
apague a vela
gesto simples
natureza.
O tempo
mesmo a soprar em contravento
consome a beleza
como a maré que lentamente
engole Veneza (que quimera ter nascido?).
Que sorte meditativa
é perceber
a feiura de minha cidade (que chancela ter nascido?)
no quebranto de suas casas
cinzentas vesgas amontoadas
que sorte contemplativa
a do velho que espera a morte
nessa mazela maquinada
sem questão
sem resposta
sem amanhã
sem enigma.
Há um pássaro morto
na piscina
que a menina
ainda pueril
não compreende o momento
anterior ao baque
e da água nos pulmões
de Veneza
que novamente emerge à cena
como pantomima
sobressalente e sem coragem.
Solenemente
irmãos
aceitemos o inexorável.