RELÓGIO DE GELO
A cada segundo
o mundo moribundo
é menos, e se liquefaz
no calor ácido, voraz.
Na pangeia
o riacho seca,
- o peixe cala -
não há ribeirõres,
nem foz, somente
silêncios, estalos secos
e gravetos em chamas.
À antiga sombra
do cajueiro
na ilha do meio
- em Itacimirim -
plantei a esperança
que trazia no peito
e que um dia morreu.
Em ritmo centrimétrico,
frenético, os prantos
inundam os oceanos
ano a ano,
o que era acalanto
e um suave canto,
degelou em dor
e lamentos.
Gelo, florestas,
rios e bichos,
- inclusive nós -
elos vivos
com a vida.
Na COP26,
o tempo evapora
no púlpito e na praça,
na conversa fiada
do humano loquaz,
que sabe o dito
e nada faz.