RELÓGIO DE GELO

A cada segundo

o mundo moribundo

é menos, e se liquefaz

no calor ácido, voraz.

Na pangeia

o riacho seca,

- o peixe cala -

não há ribeirõres,

nem foz, somente

silêncios, estalos secos

e gravetos em chamas.

À antiga sombra

do cajueiro

na ilha do meio

- em Itacimirim -

plantei a esperança

que trazia no peito

e que um dia morreu.

Em ritmo centrimétrico,

frenético, os prantos

inundam os oceanos

ano a ano,

o que era acalanto

e um suave canto,

degelou em dor

e lamentos.

Gelo, florestas,

rios e bichos,

- inclusive nós -

elos vivos

com a vida.

Na COP26,

o tempo evapora

no púlpito e na praça,

na conversa fiada

do humano loquaz,

que sabe o dito

e nada faz.

Rosalvo Abreu
Enviado por Rosalvo Abreu em 10/12/2023
Reeditado em 10/12/2023
Código do texto: T7951222
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