Tremores

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Coleção pessoal de Eliot

181 - 200 do total de 1064 pensamentos na coleção de Eliot

- IMPOSSIVEIS -

Há pessoas de quem os olhos não se esquecem

por quem a pele grita, outro instante!,

pessoas por quem os sonhos adormecem

na esperança que estejam mais presente!

A boca, o toque, o odor, o paladar,

tudo grita em nós o nome dessa dor

e os olhos cheios d'amargura teimam em chorar

carregando de noite a memória desse amor!

Mas a vida é mesmo assim, dá e tira,

é um vendaval de sonhos, vai passando,

e o que fica é a perda que em torno gira,

de quem se deu, acreditou e foi sonhando ...

Ricardo Maria Louro

1

E O MUNDO CONTRAPÕE

I

Da natureza deste mundo de vaidade

nada resta além do que é triste e banal,

ser Cristão é assumir uma Verdade,

ser Bem-Aventurado, não ser igual!

Felizes dos que são pobres em Espirito!

E o mundo contrapõe: Felizes os poderosos,

aqueles que dominam, os que dando um grito

dizem, coitados desses tolos generosos ...

Felizes são os mansos de coração!

E o mundo contrapõe: Felizes são aqueles

que estando em solidão geram violência e solidão...

Felizes daqueles que choram p’lo caminho!

E o mundo contrapõe: Felizes daqueles

que tendo tudo sentem que mandam no destino ...

II

Felizes dos que querem a Vontade de Deus!

E o mundo contrapõe: Feliz és tu se fores livre

de um Deus ultrapassado que diz que vais p’ro Céu

se sofreres em silêncio e o seguires ...

Felizes dos que tratam os outros com Misericórdia!

E o mundo contrapõe: Não se impressionem

com a miséria nem a fome, elas são próprias

da natureza humana, não se emocionem ...

Felizes são os sinceros de coração!

E o mundo contrapõe: Felizes dos que mentem

porque a mentira alimenta a elevação ...

Felizes os que constroem a paz entre todos!

E o mundo contrapõe: Felizes dos que não sentem

medo de viver em guerra dominando os outros ...

III

Felizes os que são perseguidos em nome de Deus!

E o mundo contrapõe: Felizes os que sobem na vida

sem pensar nem olhar a quem sofreu

gerando em seu torno dor e dúvida...

Eis a diferença entre dois reinos tão duais!

O Reino de Deus não é o reino dos Homens!

O Céu e a Terra são realidades desiguais

onde alimentos tão diferentes se consomem ...

E continua a ecoar no mais dentro de nós:

“Sede hospitaleiros com os outros!”

Façam-no sem murmurar! Guardai a voz ...

Acolhei os Peregrinos, dai as mãos,

vede, todos os cuidados serão poucos

porque Cristo está no olhar de cada Irmão!

Inspirado no discurso do Sr Reitor Manuel Maria Madureira da Silva, Cónego da Sé de Évora e Prior de Santo Antão em noite de Novena à Senhora da Conceição na Catedral de Évora.

Évora 5 de Dezembro de 2017

Ricardo Maria Louro

1

- CASA DO COMENDADOR -

Naquela casa esquecida

Há janelas de saudade

Um brasão desenhado

E uma história perdida

D'um morto consagrado.

Pássaros sem asa

Olhares sem vida

Gente que sofreu

E quem por lá passa

Diz: "A casa morreu!"

O tempo falou

Nas paredes caladas

Mas a Alma da casa

Em nada mudou!

Alguém a abraça ...

Retornou o passado,

A casa renasceu!

E numa hora estranha

Viu-se a Tez do Fidalgo

Dom Infante Paçanha.

Poema ao Solar brasonado de Dom Infante Paçanha no centro histórico de Ferreira do Alentejo.

Ricardo Maria Louro

1

⁠Um Piano na Sala -

Na solidão dos dias cansados,

num apanágio de silêncio,

há um Piano na Sala ...

O barulho das gentes

vai e vem e volta sem sentido!

Nos rostos cansados, severos,

que a parede proclama,

suspendem-se os gestos

de quem está.

No ar ... o Piano ... a musica ...

... a voz suspensa, calada,

dos estáticos homens

e a voz dos que vivem, sentem

e falam ... tudo no espaço

em torno do Piano!

Há Poesia no ar ...

E a musica ... sempre a musica

... união entre mundos!

Ricardo Maria Louro

- SOL TRISTE -

Nos braços do sofrimento

tudo é nulo, tudo é vão,

e é em vão o pensamento

que dá voz à solidão ...

Sol triste dos dias meus,

dá luz aos meus cansaços,

traz-me novamente Deus

p'ra que eu durma nos seus braços.

Mas se vier a Primavera

e eu já tiver morrido,

(ai Senhor, ai quem me dera)

nestes versos estarei vivo!

Já que a dor está no sangue

esconde ao menos quem a fez

p'ra que a Alma sempre cante

mal lhe doa outra vez ...

Ricardo Maria Louro

1

⁠CANTIGA DE ESCÁRNIO E MALDIZER:

Quando as tripas te doerem

Ou tiveres diarreia

O XANAX, é bom saberem,

Faz passar, é boa ideia!

Na farmácia Malagueira

A Crispina ao balcão

Dá XANAX p'ra cegueira

A quem vem com comixão.

Aos jantares de Natal

Só lá vão os coitadinhos

deixa estar que não faz mal

Serão sempre pobrezinhos.

Um XANAX, é bom saberem

Faz passar a diarreia

Quando as tripas te doerem

Bota-a-Baixo, é boa ideia.

Ricardo Maria Louro

Desabafo sem medo -

⁠Eu canto porque o meu canto é da cor

do sangue,

porque o meu sonho é maior que o mar

e porque a vida tem de cumprir-se!

⁠E outros dias virão!...

E com eles outros versos

menos amargurados, mais sentidos,

como pedras primeiras, bem alicerçadas,

na reconstrução de vidas destruídas!

A tristeza dos dias tumultuosos secará,

a fonte dos meus olhos minguará

e o poeta poderá enfim cantar...

Ricardo Maria Louro

⁠Praia Deserta -

Naquela praia deserta

deixei outrora um amor

e a solidão que me aperta

veste o meu corpo de dor.

Passou o tempo e a idade

naquela praia deserta

só não passou a saudade

que no meu peito me aperta.

O que ficou foi tão pouco

que tudo em mim se consome

gritei então como louco

gritei ao vento o teu nome.

Parti depois sem pensar

da solidão que me aperta

deixei meus olhos no mar

daquela praia deserta.

Ricardo Maria Louro

⁠E outros dias virão!...

E com eles outros versos

menos amargurados, mais sentidos,

como pedras primeiras, bem alicerçadas,

na reconstrução de vidas destruídas!

A tristeza dos dias tumultuosos secará,

a fonte dos meus olhos minguará

e o poeta poderá enfim cantar...

Ricardo Maria Louro

⁠Eu canto porque o meu canto é da cor

do sangue,

porque o meu sonho é maior que o mar

e porque a vida tem de cumprir-se!

Ricardo Maria Louro

⁠Barco antigo -

No cais da minha saudade

Atracou num barco antigo

Que julguei não ver jamais;

Um amor de pouca idade

Que o destino decepou

Em agrestes temporais.

A noite calou meu ser

Senti perto dor e perigo

Senti medo do passado;

Era o medo de te ver

Porque em mim nada mudou

Só a voz neste meu fado.

O barco chegou à praia

Fez-se perto aquele grito

Que deu voz ao alto mar;

E na proa que desmaia

Nesse barco que aportou

Vi um braço a acenar.

Nada trouxe de verdade

Afinal estava perdido

E nós ficámos iguais;

Do cais da minha saudade

Foi-se embora o barco antigo

Que julguei não ver jamais.

Ricardo Maria Louro

⁠Leme -

Na rua do meu silêncio

há um grito de saudade

é como o Céu tão cinzento

nos dias da tempestade.

Quando sopra qualquer vento

na minh'Alma há muita dor

pois na raiz do pensamento

sempre baila o nosso amor.

E no cais de qualquer porto

há sempre alguém que se demora

bailam saudades no meu corpo

como as dores de quem chora.

Alguém chora e não agarra

este meu sentir tão louco

sou como um barco sem amarra

que se afasta pouco a pouco.

Ricardo Maria Louro

⁠Cegos de Amargura -

Às vezes procuramos o que temos

na iminência de inventar felicidade

e ali está, ao nosso lado, não a vemos,

cegos de amargura e de saudade!

Somos da História um filho do meio

à procura d'um lugar que não é nosso

procuramos o que temos, que já veio,

vida que respiro mas não toco!

É tão estranho estar vivo e parecer morto

estar alegre e sentir uma tristeza

que nos invade de lés-a-lés o corpo

deixando a Alma revestida d'incerteza!

Será loucura acreditar na felicidade?!

Será a felicidade feita de loucura?!

Nada existe sem um pouco de saudade

porque a saudade é feita de ternura ...

Ricardo Maria Louro

⁠Tremores -

E eis que na solidão da praia deserta

Caem águas do meu triste olhar,

Mas essa água que me aperta

Não é menos que as águas do mar.

Não me lembro de existir dentro de mim

Algo maior que a palavra solidão,

Algo mais seco que a amargura d'um jardim

Plantado junto aos portais do coração.

Há uma noite enleada aos desejos de cada um,

Um grito, uma metáfora de saudade,

Uma vontade de comer que é jejum

Que a trazemos desde o berço por piedade.

E o que ser para além d'um silêncio sem destino?!

Um planeta sem elipse, uma curva,

Uma pedra só, pisada no caminho,

Um punhal numa fonte de água pura!