Réquiem do mundo moribundo
Neste mundo perverso, onde o pranto é o canto,
A tristeza é o nosso manto que cobre a paisagem,
Seca é esta terra de sangue, endurecida pelo quebranto,
E no céu, nenhum deus viveu, há só poeira e miragem.
O sol, cansado, despeja seus raios pálidos
Sobre um solo estéril, sem esperança;
A vegetação, em lamentos silenciosos,
Curva-se, desistindo dessa insana dança.
Não há deuses a ouvir as preces vãs.
Nas esquinas, a solidão é companhia,
Os olhares, opacos, refletem desenganos
Este mundo agônico a parir a melancolia.
Os rios, outrora cheios de vida, secaram,
As águas amargas refletem só a desolação,
Nenhuma divindade, nenhum ser elevado,
Só o caos e a injustiça como um velho irmão.
Nas cidades, há ruínas de sonhos perdidos,
A arquitetura de crimes e desilusão se ergue,
Sem consolos para aplacar os corações feridos,
Em um mar de mágoa cada homem ao pó segue.
Os prédios se erguiam como esqueletos de pedra,
Silhuetas despidas de esperanças, risos e de cantos,
Cabeças de crianças decapitadas em galhos penduradas,
E o uivo do lamento eterno ceifado pelo enforcado santo.
O céu é um manto pesado de nuvens à toa sem cor,
Não há mais auroras douradas, nem ocasos vibrantes,
Somente um cinza que se estende, sem rubor e pudor,
Sobre uma terra que carrega tantas cicatrizes aberrantes.
No deserto do coração, as almas à deriva vagueiam,
Sem o bálsamo da esperança, sem a luz da crença,
O olhar das flores é opaco, as vozes murcharam
Neste epilético mundo desprovido de benevolência.
No crepúsculo, a luz foi uma lembrança fraca,
A lua em sangue, testemunha de um pranto eterno,
Em um céu onde nenhuma divindade se destaca,
O templo da vida é a cova e o cântico do inferno.