Apatia.
tem manhãs
que parece que tudo
se reduz a fumaça.
fica evidente:
a tristeza
já não faz tanta questão
de ser camuflada,
age por si.
a alegria perdura
o que há de perdurar;
abstrata,
tende a desmoronar
assim que atinge
o campo da percepção...
posteriormente,
o que sobra é isto,
vazio, nicotina, melancolia
e muita água gelada
a fim de hidratar,
curar a ressaca.
a noite foi brava...
enquanto sufoco,
o ventilador
sopra,
mas nada escapa
desse cômodo fechado,
abrasado, sombrio...
o dia ensolarado
dá um singelo alô
quando a cortina se move
e retorna,
para se mover
novamente, seguindo
o ritmo descompassado...
tenho andado
meio desvairado,
mesmo assim,
considero ser tão pouco,
pois, quanto mais escavo,
mais me distancio do enxame
onde não reparo
qualquer semelhança
cognitiva.
eis o meu maior vacilo:
sabotar todas
as relações interpessoais,
e minar a mim mesmo,
fingindo tanta indiferença.
exagero nas falhas, vistas
pelos moralistas
como pecados capitais...
dei-me por vencido,
após declarar o fracasso,
elevando a voz
para que todos ouvissem,
bati em retirada...
e tenho andado
preguiçosamente
desde então,
sem pretensões
ou lindas e positivas perspectivas
para segurar alguém comigo...
tenho vagado
sem ponto definido...
apatia, mata?
[dsouza 16.11.2020]