Carpinteiro de palavras
Escrevo porque, mais que amar, é o meu ofício.
E ponho em versos toda a minha alma fictícia,
o meu viver fictício, o meu palmear difícil
pela existência infalivelmente fictícia.
Talvez seja destino de todo o vivente
amar, com sofrimento, o perdido (que fica).
Há em nossa memória algo que não se publica
não por vergonha, mas por desvelo dolente.
E por tal zelo estamos numa história lida;
eu, com todo o meu fardo, e tu, com minha vida,
após tanto tempo sem viver o poente.
Ficamos aqui, juntos, vivos na memória,
vivos, enquanto ainda existe amor e glória,
entre símbolos, no mais íntimo de mim.
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