MEMÓRIAS FADIGADAS
Aquele instante
aguardava-me
há muito tempo.
Tempos imemoráveis.
Maturou-se na espera,
destino dos que buscam.
A porta entreaberta
espreitava
a minha chegada.
Havia uma ansiedade
desejada, como aquela
do primeiro beijo
- de amor ou traição -
Logo fui avistado,
sentei e esperei.
À minha frente
uma orquídea branca
de folhas verdes reluzentes
insinuava o seu silêncio
plástico sobre uma estante
de madeira sem seiva.
Aquela beleza imóvel,
estética fotográfica
e morta,
levou-me ao amarelo
vívido e matizado
das orquídeas
que de ano em ano
florescem no meu jardim.
Como eterno transeunte
e estrangeiro contumaz
- de mim para mim
mesmo - aguardo
com um cansaço
esperançoso.
Na algibeira descansam
memórias fustigadas,
aguardando o reboliço
das revivescências
terapêuticas.