Natureza morta
Sobe o frescor mágico destas
pétalas de magnólias imaginárias,
são desejos não concretos,
desejos que cheiram o coração
atônito de sonhos da vida,
mundos de amores sólidos
erguidos em mármores titânicos,
uma leveza na transparência do céu
quanto o peso de amar sem fim.
Imaginar é pior do que ter,
porque a carcaça do real é finita:
os órgãos dos sentidos se esgotam,
as mãos da empatia se encardem
nas aspirações dos enterros,
o fracasso beija-nos à força,
as dores são insuportáveis.
A imaginação é o protesto das coisas.
Damos vida à natureza morta,
somos deuses sem poderes:
uma pedra é imutável e característica,
particularidades contidas a vácuo,
e portanto, damos consciência à ela
do seu peso em não pensar.