Natureza morta

Sobe o frescor mágico destas

pétalas de magnólias imaginárias,

são desejos não concretos,

desejos que cheiram o coração

atônito de sonhos da vida,

mundos de amores sólidos

erguidos em mármores titânicos,

uma leveza na transparência do céu

quanto o peso de amar sem fim.

Imaginar é pior do que ter,

porque a carcaça do real é finita:

os órgãos dos sentidos se esgotam,

as mãos da empatia se encardem

nas aspirações dos enterros,

o fracasso beija-nos à força,

as dores são insuportáveis.

A imaginação é o protesto das coisas.

Damos vida à natureza morta,

somos deuses sem poderes:

uma pedra é imutável e característica,

particularidades contidas a vácuo,

e portanto, damos consciência à ela

do seu peso em não pensar.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 31/10/2023
Reeditado em 07/12/2024
Código do texto: T7921467
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