OS DOIS LADOS DO RIO - Uma reflexão sobre a guerra.

Nós estávamos de um lado do rio

E o inimigo, do outro lado,

Todos os dias o combate era intenso,

Artilharia, fogo cruzado.

Durante a noite as metralhadoras cessavam,

O silêncio espalhava-se por todos os cantos,

A lua iluminava semblantes cansados

E trazia alento junto ao seu encanto.

Mas ao raiar do dia, recomeçava o inferno,

Ninguém conseguia manter-se à salvo,

Soldados gritavam com sangue em seus olhos,

Atiravam a esmo, sem enxergarem seus alvos.

Contávamos apenas, com suprimentos escassos,

E obviamente, contávamos com a sorte,

Que nos abraçava, em alguns raros casos,

Mas na maior parte deles, o destino era a morte.

Um tiro certeiro,

Era motivo de glória,

Se atingisse a cabeça,

Era outra vitória.

Caçávamos o oponente,

Como se fosse um rato,

Não enxergávamos rostos,

Só capacetes furados.

Mantínhamos por eles,

Ódio mortal,

Os queríamos mortos,

Sua ruína, seu mal.

Fazíamos piadas,

Dos atingidos, dos mortos,

Zombávanos deles,

Dos uniformes, dos corpos.

Um dia, enfim,

O inimigo sucumbiu,

Alvejado, de joelhos,

O último caiu,

Nós cruzamos o rio,

Apreensivos e silenciosos,

Ainda com medo,

Ainda com ódio.

Finalmente conhecemos,

Do monstro a face,

O tão terrível inimigo,

E por mais que custasse,

Precisávamos naquele momento,

Admitir,

O inimigo não era mostro,

Parecia até mesmo incapaz de ferir.

Eles eram como nós,

Jovens, belos, sonhadores,

Vitimados pela guerra,

Cegos pelo mundo de horrores.

Eles tinham em suas fardas,

Cartas, amuletos, fotografias,

Enviadas por alguma jovem,

Que distante dali, sofria.

Eles tinham orações,

Breves frases versando sobre Deus,

Eles tinham corações,

Que vibravam junto aos seus.

Eles tinham souvenirs,

Pistolas, insígnias, do nosso exército,

Tiradas de corpos, assim como os nossos,

As ossadas estavam ainda por perto.

Eles estavam serenos,

Mortos, pareciam dormindo,

Vestiam-se como Soldados,

Mas eram apenas meninos!

Assim como nós,

Estavam seguindo,

As ordens de homens

Covardes, sorrindo,

Enquanto morriam soldados,

Enquanto morriam meninos,

Sim!

Eram apenas, meninos!

Para quem estávamos mentindo?

Pedro Silva.

Pedro R Silva
Enviado por Pedro R Silva em 08/10/2023
Código do texto: T7904241
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