Preto e branco
A casa às escuras
Quarto
Sala
Cozinha
Banheiro
A luz de velas
De chama amarela
Lembrei da infância
Cheia de esperança
Sempre à espera
Aquela
Que tudo alcança
Sombras de dedos
Bichos e medos
A velha irmã
Sem forças
Olhei em volta
Os gatos na mesa
O ralo café
Um gole tomei
Sem desfeita
Muita gente falta
Aquela parentela
Que estão nas fotos
Da parede
Em preto e branco
Um cheiro antigo
Preenche tudo
Conversas vazias
Assuntos sem rumo
Assim como o mundo
Outros um dia pensarão
Ou sentirão igual
Essas coisas sem cores
Que agradam e desagradam
Alguns corações
Que tolice
O palácio de cristal
E a casa sobrenatural
Com sua velha louca
Bêbada mas lúcida
Carregando 86 na carcaça
Tem que ter raça
Ou muito pecado
Quem um dia ficará com essa herança?
Essa casa caindo aos pedaços
Que num quintal foi se multiplicando
Mais um tijolo e outro e outro
Sem manutenção
E tempo pra usufruir
Os fios também ficaram velhos
Assim como a dona
Que de repente se vê às escuras
A gente também precisa se cuidar
Pra de repente não apagar
A nossa preciosa luz