Preto e branco

A casa às escuras

Quarto

Sala

Cozinha

Banheiro

A luz de velas

De chama amarela

Lembrei da infância

Cheia de esperança

Sempre à espera

Aquela

Que tudo alcança

Sombras de dedos

Bichos e medos

A velha irmã

Sem forças

Olhei em volta

Os gatos na mesa

O ralo café

Um gole tomei

Sem desfeita

Muita gente falta

Aquela parentela

Que estão nas fotos

Da parede

Em preto e branco

Um cheiro antigo

Preenche tudo

Conversas vazias

Assuntos sem rumo

Assim como o mundo

Outros um dia pensarão

Ou sentirão igual

Essas coisas sem cores

Que agradam e desagradam

Alguns corações

Que tolice

O palácio de cristal

E a casa sobrenatural

Com sua velha louca

Bêbada mas lúcida

Carregando 86 na carcaça

Tem que ter raça

Ou muito pecado

Quem um dia ficará com essa herança?

Essa casa caindo aos pedaços

Que num quintal foi se multiplicando

Mais um tijolo e outro e outro

Sem manutenção

E tempo pra usufruir

Os fios também ficaram velhos

Assim como a dona

Que de repente se vê às escuras

A gente também precisa se cuidar

Pra de repente não apagar

A nossa preciosa luz

Carlinhos Real
Enviado por Carlinhos Real em 08/10/2023
Reeditado em 08/10/2023
Código do texto: T7904193
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