Todos se odeiam um pouco.

Seja pelas coisas mais supérfluas, tolas, fúteis

Por algo que ninguém - além de si - veria.

Seja pelas marcas ocultas de flagelos passados

Seja pelas sensações de um futuro que lhe incuta

Uma temerosa desvontade de ver-se no espelho

De compartilhar o espaço limitado por esta pele.

Um motivo que repuxa, uma razão que te repele;

Independente das intempéries:

Todos

Se odeiam

Um pouco.

Formato do rosto, extensão dos cabelos

Cor da pele, fios brancos e porque não se deve tê-los;

Altura mínima, tamanho máximo

Quantas voltas dá o ponteiro da balança;

Uma frase que só vive por meio de suas lembranças

E outros fantasmas de vítima solitária.

Travando uma eterna batalha

Entre o que dá pro gasto

E claros exemplos de falhas

Mesmo que o quarto seja fechado, de luz apagada

E a lanterna esteja apenas na sua mão

Mesmo que a sombra que se agiganta e te consome seja sua

Projetada, apenas, por meio de sua decisão

De colocar os holofotes em si mesmo.

Mesmo com todas as razões do porque não fazê-lo

Ainda tomamos do mesmo veneno

Chamado ''Excesso de zelo''

Porque não entendemos aonde

E no que

Este deveria, de fato, ser aplicado.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 05/10/2023
Código do texto: T7901606
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