Todos se odeiam um pouco.
Seja pelas coisas mais supérfluas, tolas, fúteis
Por algo que ninguém - além de si - veria.
Seja pelas marcas ocultas de flagelos passados
Seja pelas sensações de um futuro que lhe incuta
Uma temerosa desvontade de ver-se no espelho
De compartilhar o espaço limitado por esta pele.
Um motivo que repuxa, uma razão que te repele;
Independente das intempéries:
Todos
Se odeiam
Um pouco.
Formato do rosto, extensão dos cabelos
Cor da pele, fios brancos e porque não se deve tê-los;
Altura mínima, tamanho máximo
Quantas voltas dá o ponteiro da balança;
Uma frase que só vive por meio de suas lembranças
E outros fantasmas de vítima solitária.
Travando uma eterna batalha
Entre o que dá pro gasto
E claros exemplos de falhas
Mesmo que o quarto seja fechado, de luz apagada
E a lanterna esteja apenas na sua mão
Mesmo que a sombra que se agiganta e te consome seja sua
Projetada, apenas, por meio de sua decisão
De colocar os holofotes em si mesmo.
Mesmo com todas as razões do porque não fazê-lo
Ainda tomamos do mesmo veneno
Chamado ''Excesso de zelo''
Porque não entendemos aonde
E no que
Este deveria, de fato, ser aplicado.