POEIRA ESTELAR
O mundo é metáfora.
Tava inscrito na mansidão
que escorria persistente
naquele riacho.
O silêncio das águas.
Nos galopes sobre
o cavalo de pau
transgredíamos
as estrelas.
O microcosmo
suspenso no ar
era visto pela fresta
de luz que descia
do telhado.
Poeira cósmica.
Os vagalumes
no embrenhar da noite
existiam em saltos
quânticos.
Dança das luzes.
As cigarras
nos iluminavam
com seus cânticos
secretos na escuridão.
A lua era um clarão
que sussurrava poesia.
Tempos depois,
bem mais tarde,
veio “a coisa em si”,
e a metamorfose
ambulante.
O que veio
como explicações
claras, acadêmicas,
desconfigurou tudo.
O mundo
é a metáfora
das coisas.