EU VI A TERRA MOVER DIFERENTE (Porque somos parte de tudo e tudo é parte de nós...)
Quantas vezes fui em direção à lua, à beira-mar,
Nas noites em que eu precisava desabafar,
Desaguando em sua luz fria no céu,
Aquilo que não sabia muito bem expressar,
A alma se liberava e se entregava ao caminho sem mapa,
E a lua calada, a brisa fresca, parecia remédio,
Sob a palidez de sua luz, não havia estupidez,
Ou qualquer preocupação, mesmo nem tudo sendo lucidez.
No fim, a lua não ouvia qualquer queixa,
A brisa fria não abraçava,
Mas a alma, longe de qualquer convicção,
Se ouvia e se respeitava,
Então eu vi a terra mover diferente...
Até entender que o movimento ainda era o mesmo,
Meus olhos se permitiram a entender sutilezas antes não vistas,
De que as memorias jamais serão esquecidas,
Porém, podemos escolher aquelas que serão o motivo da nossa jornada,
Dor, amor, perdas, vitórias, tristezas e alegrias,
Eu, nós, indivíduo coletivo,
Incompreensível aos poucos compreendido,
Mesmo que no fim nem tudo seja incontingente, e é provável que não será,
Ainda veremos a terra mover diferente.
Eu vi a terra mover diferente...
Até entender que o movimento ainda era o mesmo,
Mas meus olhos se permitiram a entender sutilezas antes não vistas,
Neste percurso me desmontei e remontei,
Tentando guardar parte de minha essência,
Enquanto outras partes se misturavam a minha,
E cabia a mim concluir o que era veneno e o que era acalento,
E partes de mim se misturavam a você...
Agora quanto de mim sou eu ou você?
E quanto de você é você e quanto se misturou a mim?
Tantas vezes, tentamos nos afastar do que não faz os olhos sorrirem ou o coração se alegrar,
Na tentativa de anestesiar qualquer sentimento,
Até percebermos que nisso não há êxito,
Porque somos parte de tudo e tudo é parte de nós,
E na parte mais profunda da nossa individualidade,
Há indícios de que não importa o que ocorra, ainda somos nós,
Essa percepção, maturidade, não nos abraça como um ato de exercício,
Não praticamos porque queremos, porque pretendemos alcançá-la, ainda que tentemos,
Na realidade, não a encontramos, percebemos aos poucos ela aqui.
E quem sou? Quem somos? É um construir e reconstruir constante,
Percebemos isso sem precisar um pronunciamento,
Afinal, na ausência de uma fala também se pode se dizer,
Não é porque não vejo que não posso sentir,
Então como permitir ser visto sem correr perigo?
Se sem correr perigo não nos machucamos,
Mas sem correr perigo também não conquistamos,
Queremos existir apenas por existir?
Se “penso, logo existo”, existiria apenas por pensar?
Ou romperia a barreira para também sentir?
É claro que, o sentir não existe sem o resistir.
Então eu vi a terra mover diferente...
Até entender que o movimento ainda era o mesmo,
Mas meus olhos se permitiram a entender sutilezas antes não vistas,
Aquelas que eu escondia dentro de mim e de mim mesmo,
E aquelas fora de mim que, às vezes, a outra essência tentou manter em segredo,
Mas que não pode ser contida na expressão de um olhar,
E seguimos, em um eu tanto parte de mim quanto do universo,
Construindo versos quando o coração sorrir,
Ou quando for preciso florear algo que tentou amargar,
Até que se possa amar sem medo aquilo que é,
Aceitando aquilo que será,
Para que a essência que se una a esta individualidade,
Venha ser como uma ilha protegida banhada em um mar de paz,
Onde as ondas que banham as areias do coração, possam aliviar alguns “ais”,
Acrescentando ao caminho a segurança de seguir e a esperança no acreditar,
Amando a si mesmo, o nós, e esse constante transformar.